quarta-feira, 12 de maio de 2010

A visita de mais um Papa: mais uma falsa esperança...e um equívoco

10.5.10

Há dois mil anos, desde que, dizem, fundada esta religião, da qual agora nos visita o seu universal, política e canonicamente, reconhecido e eleito líder, sempre se escreveu sobre a mesma, e nem sempre para a elogiar. Diz-se que a religião cristã nasceu há dois mil anos, mas para mim, com as mesmas bases históricas, mas sem o mesmo seguidismo de crentes que seguem o dogma, tal como um dogma deve ser seguido, nasceu um movimento político, mais tarde adoptado como religião. As razões da confusão histórica devem-se a muitos aspectos e diversas falsas e erróneas interpretações. Em primeiro lugar, há dois mil anos, religião e política confundiam-se, porque ambas tratavam dos mesmo problemas: a vida das pessoas, a organização social, a atribuição da autoridade, confusa entre um líder militar, um líder político e um...religioso, numa terra onde, na altura, só existia uma religião forte e organizada: o judaísmo. Cristo, aliás, nasceu Judeu, como sabemos. E é das poucas certezas, sobre esse homem, que mudou o mundo, com as suas ideias visionárias e inovadoras, mas igualmente irreverentes e controversas. No seu tempo e no seu meio só podia...não ser aceite. Tal como não o foi.

Mais tarde, interessou, a muitos e, nomeadamente a quem queria contestar, de uma vez, a supremacia do invasor, o Império Romano, que Cristo fosse colocado bem mais acima do que ele mesmo pretendeu, e, assim...tornou-se..filho de Deus. Mas aos olhos de quem hoje defende o Cristianismo, e o Dogma, ele mesmo foi um revolucionário e um ilícito, se for visto, como há dois mil anos se pretende...um religioso, um líder, um único o Verdadeiro Filho de Deus, com uma missão...a de trazer uma nova Palavra, e um novo olhar sobre as pessoas e sobre o Mundo. Mas afinal...porque só há dois mil anos surgiu um Profeta (por definição um portador de uma palavra nova e divina, e visionária) e depois desse momento...nunca mais terá surgido? Nem com outra religião, universal, excepção feita ao Islamismo, qual movimento contestatário, qual Partido Comunista da religião da época...

Mas já se analisou a história desta instituição que se apoderou de uma ideia, a ideia de um Cristo, do cristianismo? Já se verificou e tentou entender, porque se continua a considerar que, dois mil anos mais tarde...ainda se defende este ideário, como sendo uma 'ideia nova'...se durante mais de mil e quinhentos anos, quase mil e oitocentos, se tratou da instituição que:

  • mais formatou uma cultura, uma civilização e nem sempre pelas boas razões?
  • praticou mais crimes contra a humanidade e contra a sua própria, dita, Doutrina?
  • se continua a defender que é do Bem que se trata, quando nem se deixa a si mesma intererrogar?
  • porque não pode ser questionada?
  • porque só sucederam 'milhagres' em países onde a escassez de cultura e o atraso social é maior?
  • porque se considera ainda hoje, hoje mesmo, num programa da RTP, tanta gente considera que a visita de um Papa, será uma nova 'tábua de salvação'? (mas salvação de quê e contra quem? Política injusta? Contra uma sociedade consumista, capitalista como ouvir dizer? E porque, assim sendo, não se intervém, dia a dia, em lugar de deixar a intervenção a outros e o segredo para a solução num homem que nada sabe de nós, e nem quer saber? Ou porque se acha que com oração se resolvem problemas ou, pior, não se resolvem, porque se considera que não têm, talvez, solução, mas que a oração mitigará sofrimentos?
  • porque pára um país pela visita de um tão insignificante homem?
  • porque se fala tanto de tal personalidade, quando no dia seguinte...as dificuldades são as mesmas que hoje, véspera da sua visita existem? E nunca foi um Papa, ou uma oração, ou milhões de orações, biliões delas ao longo de dois mil anos, que resolveram algum problema a alguém?
  • porque se acha que com uma fé, a vida será melhor? Se de vida se trata, porque se se trata de qualquer coisa depois dela, da vida, nem uma linha perco a escrever sobre tal disparate ( a vida é um fenómeno, aliás nem isso, é um facto! biológico e nada espiritual!)
  • há centenas de anos, há dois mil anos, ou qualquer coisa próximo disso, que se diz que há crise social, crise de valores...crise de ideias, crise de princípios, etc...mas que ...agora...é desta! Desta... com a visita da dita pessoa, a quem chamam de Santo Padre, porque um dia um conjunto de lúgrubes e suturnas individualidades, supostamente iluminadas, na sua confortável vida de luxo e mordomias, elegeu a referida, também individualidade (por definição, o oposto de Divindade, mas respeitada e cegamente seguida como divindade...precisamente o contrário do que Cristo defendia, visto que ele mesmo, furiosa, intrépida e irreverentemente combateu, no Império ao qual se opunha...!!)

....não tenho as respostas todas, ou não tenho a possibilidade de, aqui, as explanar em toda a sua extensão e necessidade, mas na quase totalidade, a resposta é a mesma:

Tudo não é mais do que uma elaborada (em dois milénios!) criação da nossa mente!

Boa semana aos religiosos. Para mim, uma semana normal...ou talvez não, mas por outras razões, bem mais...'terrenas' (porque é na 'terra' que vivo...)

Não resisto a mais um comentário...a confusão...com uma pretensa 'beleza' de um palco para a missa papal em Lisboa...e a menção dos dois mil anos de história da igreja católica, com a adicional...'tem uma obra notável' (de perseguições religiosas, guerras religiosas, assassinatos, crimes e genocídios, destruição de civilizações ou de pequenas comunidades tribais, com a ridícula e criminosa ideia de a Verdade, pertencer aos cristãos e, em particular, aos católicos...).

E diz-se esta gente inteligente e especial. Especialmente iluminada porque detentora de uma verdade que outros não possuem...?!

Oiço um Rebelo de Sousa dizer coisas tão idiotas como isto: a mensagem da igreja,...da universalidade (como??? e isso é bom? E eu que pensava que Cristo, ao defender o respeito pela Pessoa, defendia, por consequência, o respeito pela Diferença!), a mensagem da Evangelização (nem comento...já respondi acima), a mensagem do respeito pela Pessoa Humana...(sim..risque-se da história a Inquisição, os auto de fé, as guerras religiosas (santas...), Cortéz, e outros 'santos espanhóis', as intrigas familiares em Itália e no Vaticano, os abusos de poder e as influências sobre o poder político em regimes obscuros e totalitários...os abusos de poder económico, quando tal foi possível, a omissão e a fuga a respostas como 'segredos' religiosos...os milhagres criados para subjugar, em épocas de duvidosa verdade histórica...e um infindável cortejo de atrocidades...

E lá continuam eles a tirar a esperança das mãos e da mente humanas, para a continuar a colocar nas mãos de uma divindade...e de personalidades supostamente superiores...

Quando veremos o fim de tanta estupidez humana??

Publicada por Alexandre Bazenga em 10.5.10 no blogue nada de novo na frente ocidental

(copiada com a autorização expressa do autor)

segunda-feira, 1 de março de 2010

O medo, a religião e os fenómenos naturais.

O medo é um sentimento normal que ocorre em resposta a situações ou a objectos percebidos como ameaças à segurança ou bem-estar da nossa integridade. As modificações fisiológicas que acompanham este sentimento preparam o organismo para aumentar a atenção prestada ao meio ambiente, avaliar rapidamente o risco da situação e responder automaticamente, mas de forma adequada, ao estímulo causador do medo, geralmente fuga ou luta. Porque a avaliação da situação é relativamente grosseira (não há tempo, nestes casos, para proceder a uma avaliação racional) o conjunto de reacções espoletado pode ser sub ou sobre-estimado, o que pode conduzir inevitavelmente a efeitos prejudiciais ou mesmo letais (tome-se como exemplo o esmagamento de indivíduos em reacções colectivas de pânico).

O valor de sobrevivência das emoções resulta da rapidez com que um ser humano (ou animal) responde a uma situação de perigo potencial. Passada a situação de perigo, as funções fisiológicas e psicológicas retornam, pouco a pouco, ao ponto de equilíbrio típico de cada indivíduo.

Nas espécies gregárias, como a nossa, tendemos a reagir ao medo colectivamente adoptando comportamentos sociais concertados. A vida gregária e o trabalho colectivo facilitaram o desenvolvimento, não só das nossas espantosas capacidades intelectuais, mas sobretudo da ainda mais espantosa capacidade de simbolização que atingiu a sua perfeição na linguagem humana.

À medida em que a vida em sociedade se foi desenvolvendo, os mecanismos automáticos de resposta foram-se dissociando e integrando em novas condutas mais complexas que combinam elementos emocionais, instintivos e intelectuais. Os nossos recém-nascidos não estão preparados para reagir emocional ou instintivamente à maior parte das situações de risco actuais porque estas estiveram ausentes no período filogenético da formação do cérebro humano. Por isso têm que ser ensinados relativamente aos riscos associados à ingestão de produtos químicos e farmacêuticos, à manipulação de tomadas eléctricas, ao contacto com os bicos de fogões e outras fontes de calor ou ao acesso a janelas, portas, varandas, escadas, piscinas, ruas, etc. Daqui que se percebe como o nosso cérebro está preparado para aceitar e ser condicionado pela influência do semelhante.

As formas de controlo social apareceram e foram sendo aperfeiçoadas, tanto para proteger os indivíduos, como para os submeter aos mecanismos de subordinação e exploração das novas ordens sociais. O controlo social através do medo sempre foi a forma mais eficaz de subordinação e continua a ser usada mas cada vez com maior requinte simbólico e tecnológico, tanto por polícias como por ladrões, por educadores, capitalistas, políticos, juízes e meios de comunicação social. A pressão é exercida sempre no sentido de se criar o medo auto-induzido (que leva a sentimentos de culpa, dependência, auto-desvalorização, etc.) que é mais eficaz, mais barato de obter e com efeitos mais perduráveis do que o medo obtido por coerção.

A religião é, sem comparação, a forma mais subtil e mais inteligentemente concebida de manter a humanidade escravizada pelo medo em proveito de uma minoria silenciosa e de face oculta. E não se pense que isto de religião se mantém apenas pela pregação inflamada das classes sacerdotais ou pela argumentação escolástica dos seus teólogos; Não! A sua base fundamental é a aliança, antiga e sagrada, entre as massas voluntariamente escravizadas e a cupidez dos tiranos.

Um animal acossado por parasitas, abocanha, cata-se ou sacude-os. Também Gaia: tremores de terra, chuvas diluvianas, tsunamis, secas, degelo dos icebergs, são consequências, ou de situações naturais, ou de situações artificialmente provocadas pelo homem. Podemos prevenirmo-nos para fazer face às primeiras e pouco mais; podemos evitar ou minimizar as segundas. Mas quando as utilizamos para invocar a cólera divina causada pelos "pecados da humanidade", estamos a ser cúmplices da grande tramóia.

Os interesses de hoje são os interesses de sempre!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um ateu lusodescendente (2)

Espinosa não é um ateu declarado e tem sido considerado como um panteísta. Postula, na Ética, uma "Substância" infinita a que tanto se pode chamar Deus ou Natureza, Matéria (extensão) ou mesmo Pensamento, entre vários dos seus infinitos atributos. Nega que Deus tenha criado o mundo, o qual se rege exclusivamente por causas naturais, que a alma humana seja imortal e que o homem disponha de livre arbítrio.

Espinosa é, todavia, um homem perigoso, pelas suas ideias e pelas suas inclinações políticas claramente republicanas. Não é só a comunidade judia que o excomunga: também, na tolerante Amsterdão do seu tempo, alguns cristãos (católicos e reformados) e filósofos racionalistas (cartesianos) se afastam dele e o atacam.

Questão 1: De onde vem a mania monoteísta da excomunhão (o chérem judeu ou a excommunicatio católica)?

O núcleo central da ideia de excomunhão é o isolamento do excomungado relativamente à sua comunidade. O excomungado não só é banido, o que acarreta a perda completa dos laços e sentimentos de inclusão e pertença, como os membros da comunidade ficam impedidos de comunicar com ele. Parodiando o Poeta, é uma fogueira que "arde sem se ver". A fogueira da Santa Inquisição, como em muitos casos a fatwa islâmica, tem por objectivo o desaparecimento físico do herege, do ímpio ou do impuro. A excomunhão tem outra função mais subtil: manter a pessoa viva a assistir à sua morte como identidade pessoal a qual se forja, como se sabe, pela criação e manutenção dos laços que nos prendem à sociedade em que vivemos.

O Index Librorum Prohibitorum é uma forma ligeira de excomunhão: não separa a comunidade do excomungado mas dos seus livros, cuja leitura passa a ser proibida. Funciona como medida preventiva que isola os crentes e a comunidade dos focos de infecção e impureza.

A hipótese com que estou a trabalhar é a de que se trata de um ritual compulsivo de purificação. Mas isto é ainda uma explicação muito superficial: se o monoteísmo é, ele próprio, o agente virulento que agride a mente humana e a conduz à loucura, não constituirá a reacção descrita uma defesa adaptativa às ameaças à sua sobrevivência? Esta nova hipótese leva à

Questão 2: A mania monoteísta da excomunhão não estará ela própria enraizada no mito bíblico da expulsão do Paraíso? A questão é muito interessante e será abordada mais tarde.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

IMBOLC hoje

Escrevi no blog "O Tremontelo", faz agora uns anos, um post com o mesmo nome e com os seguintes dizeres:

"Comemoração da deusa Brígida ou Brigite como a "noiva do sol". O acréscimo diário da luz solar faz despertar as sementes adormecidas na terra gelada pelas geadas. É o primeiro indício da Primavera. A donzela, agora recuperada do parto da criança solar, ressurge revigorada."

Acho que tem cabimento num blogue dedicado à Ateologia Portuguesa - e aproveito para agradecer ao Rui o convite para participar neste sítio - um espaço dedicado aos primitivos deuses pré-romanos que a seita hebreu-cristã romana cristianizou, canonizando-os.

A narrativa respeitante a Santa Brígida está mais envolvida em névoa do que a própria Avalon. Naomh Bríd nasceu no século V na Irlanda, de que é padroeira. Segundo outra tradição, não menos nebulosa, a mãe era natural da Lusitania e teria sido raptada por piratas, tal como São Patrício, e levada como escrava para a Irlanda. Brígida morreu por volta do ano 525 e o seu crânio foi trazido para Lisboa onde permanece na Igreja de S. João Batista, no Lumiar.

Isto tem um tríplice interesse do ponto de vista da ateologia lusitana:

  1. A santa católica é cultuada no mesmo dia (1º de Fevereiro, Imbolc) em que também o era a deusa celta do mesmo nome (Brígida ou Brigite).
  2. As ligações da santa, tal como a deusa, a Portugal. Nomes da deusa: Bride, Brid, Brig, Bridey, Brigit, Brighid, Briggidda, Brigantia, Brigid, Brighid, Bridget, Senhora do Manto. Note-se que de 'Brigantia' derivou 'Bragança'. (Resta saber se tudo isto não virá a ter, um dia, relação com as Mães de Bragança).
  3. Imbolc é também Candlemas, o Festival do Fogo, o que relaciona directamente esta festa pagã com a festa que os católicos celebram amanhã em honra de Nossa Senhora das Candeias ou Candelárias, ou da Purificação da Virgem (Purificatio B.M.V.). Segundo a Lei Mosaica, uma mulher que tinha acabado de parir era impura e tinha que ir, passado um certo tempo, ao Templo para ser novamente purificada. (Estranho parentesco com as Mães de Bragança e a purificação da sua cidade)
Não fica aqui mais do que um apanhado de reflexões a fazer. Essas, porém, cabem aos leitores deste blogue.

Hollywood, Feb, 1.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um ateu lusodescendente

“Pela decisão dos anjos e julgamento dos santos, excomungamos, expulsamos, execramos e maldizemos Baruch de Espinosa… Maldito seja de dia e maldito seja de noite; maldito seja quando se deita e maldito seja quando se levanta; maldito seja quando sai, maldito seja quando regressa… Ordenamos que ninguém mantenha com ele comunicação oral ou escrita, que ninguém lhe preste favor algum, que ninguém permaneça com ele sob o mesmo tecto ou a menos de quatro jardas, que ninguém leia algo escrito ou transcrito por ele.”
Texto da excomunhão de Espinosa da Sinagoga de Amesterdão, 1656