O medo é um sentimento normal que ocorre em resposta a situações ou a objectos percebidos como ameaças à segurança ou bem-estar da nossa integridade. As modificações fisiológicas que acompanham este sentimento preparam o organismo para aumentar a atenção prestada ao meio ambiente, avaliar rapidamente o risco da situação e responder automaticamente, mas de forma adequada, ao estímulo causador do medo, geralmente fuga ou luta. Porque a avaliação da situação é relativamente grosseira (não há tempo, nestes casos, para proceder a uma avaliação racional) o conjunto de reacções espoletado pode ser sub ou sobre-estimado, o que pode conduzir inevitavelmente a efeitos prejudiciais ou mesmo letais (tome-se como exemplo o esmagamento de indivíduos em reacções colectivas de pânico).
O valor de sobrevivência das emoções resulta da rapidez com que um ser humano (ou animal) responde a uma situação de perigo potencial. Passada a situação de perigo, as funções fisiológicas e psicológicas retornam, pouco a pouco, ao ponto de equilíbrio típico de cada indivíduo.
Nas espécies gregárias, como a nossa, tendemos a reagir ao medo colectivamente adoptando comportamentos sociais concertados. A vida gregária e o trabalho colectivo facilitaram o desenvolvimento, não só das nossas espantosas capacidades intelectuais, mas sobretudo da ainda mais espantosa capacidade de simbolização que atingiu a sua perfeição na linguagem humana.
À medida em que a vida em sociedade se foi desenvolvendo, os mecanismos automáticos de resposta foram-se dissociando e integrando em novas condutas mais complexas que combinam elementos emocionais, instintivos e intelectuais. Os nossos recém-nascidos não estão preparados para reagir emocional ou instintivamente à maior parte das situações de risco actuais porque estas estiveram ausentes no período filogenético da formação do cérebro humano. Por isso têm que ser ensinados relativamente aos riscos associados à ingestão de produtos químicos e farmacêuticos, à manipulação de tomadas eléctricas, ao contacto com os bicos de fogões e outras fontes de calor ou ao acesso a janelas, portas, varandas, escadas, piscinas, ruas, etc. Daqui que se percebe como o nosso cérebro está preparado para aceitar e ser condicionado pela influência do semelhante.
As formas de controlo social apareceram e foram sendo aperfeiçoadas, tanto para proteger os indivíduos, como para os submeter aos mecanismos de subordinação e exploração das novas ordens sociais. O controlo social através do medo sempre foi a forma mais eficaz de subordinação e continua a ser usada mas cada vez com maior requinte simbólico e tecnológico, tanto por polícias como por ladrões, por educadores, capitalistas, políticos, juízes e meios de comunicação social. A pressão é exercida sempre no sentido de se criar o medo auto-induzido (que leva a sentimentos de culpa, dependência, auto-desvalorização, etc.) que é mais eficaz, mais barato de obter e com efeitos mais perduráveis do que o medo obtido por coerção.
A religião é, sem comparação, a forma mais subtil e mais inteligentemente concebida de manter a humanidade escravizada pelo medo em proveito de uma minoria silenciosa e de face oculta. E não se pense que isto de religião se mantém apenas pela pregação inflamada das classes sacerdotais ou pela argumentação escolástica dos seus teólogos; Não! A sua base fundamental é a aliança, antiga e sagrada, entre as massas voluntariamente escravizadas e a cupidez dos tiranos.
Um animal acossado por parasitas, abocanha, cata-se ou sacude-os. Também Gaia: tremores de terra, chuvas diluvianas, tsunamis, secas, degelo dos icebergs, são consequências, ou de situações naturais, ou de situações artificialmente provocadas pelo homem. Podemos prevenirmo-nos para fazer face às primeiras e pouco mais; podemos evitar ou minimizar as segundas. Mas quando as utilizamos para invocar a cólera divina causada pelos "pecados da humanidade", estamos a ser cúmplices da grande tramóia.
Os interesses de hoje são os interesses de sempre!
segunda-feira, 1 de março de 2010
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